Do JC ONline
Vamos
imaginar que estamos em um filme onde uma pessoa passa os últimos 20 anos em
coma e acorda hoje. Pega os jornais e acha que a política nacional virou de
cabeça para baixo. O Partido dos Trabalhadores (PT), que nasceu nas portas de
fábricas do País, envia ao Congresso Nacional um pacote de medidas provisórias
(MPs) que cortam benefícios dos trabalhadores. E o PSDB, que outrora defendeu
questões como o fator previdenciário, está ao lado da classe operária, lutando
para manter os benefícios em vigor.
Os
pontos mais polêmicos do pacote são as MPs 664 e 665. A primeira modifica
as regras de pensão e auxílio doença. Já a segunda altera as regras do
seguro-desemprego, abono e período de defeso do pescador (período em que o
pescador é proibido por lei de trabalhar no período de reprodução dos peixes).
No
entanto, parlamentares do PSDB discordam a ideia de uma simples “inversão de
papéis”. Bruno Araújo, líder das minorias na Câmara, acredita que a atual
posição do seu partido é um reflexo do posicionamento do PT. “Eles tocaram o
País de forma irresponsável na condução da dívida pública. Quebraram o País e
agora querem recuperar às custas do trabalhador. O PSDB sempre acreditou no
controle das finanças para incrementar a prestação de serviço de qualidade
à população”, afirmou o parlamentar.
Daniel
Coelho, outro deputado federal tucano, segue a mesma linha de Bruno. “O PT tem
uma discurso muito distante da prática. Deveriam, primeiro, fazer a parte
deles, enxugando o governo e cortando cargos e gastos para depois ir buscar com
a oposição e a sociedade um pacto. Sempre tivemos (no PSDB) uma conduta de
defesa da sociedade”, declarou Daniel.
Além
disso, Daniel acusa o governo de ter adotado um discurso contraditório. “Na
campanha, Dilma dizia que seria o PSDB que faria esses cortes. Não vamos
admitir que esses cortes venham antes do governo fazer seu dever de casa”,
acrescentou.
Na
defesa do governo, o líder do PT no Senado, Humberto Costa, afirma que não há
nenhuma crise de identidade no partido e que as medidas são passageiras. “É
apenas uma transição. As medidas são temporárias para se criar um ambiente de
estabilidade, para que o País retome o crescimento, faça divisão de renda”,
explicou o senador.
Ainda de acordo com Humberto, não é a primeira vez que o PT é
acusado de “trair os trabalhadores”. “Em 2003 e 2004, o ex-presidente Lula
também tomou medidas duras, como aumento de juros. Na época, disseram que ele
tinha se virado para o neoliberalismo (teoria defendida pelo PSDB) e que tinha
abandonado o compromisso com os trabalhadores. Depois disso, o País voltou a
crescer”, completou.
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