Boa a iniciativa de estimular mulheres a publicarem na hashtag #PrimeiroAssédio. Entretanto, quando a gente começa a ler os relatos, vê que a maioria deles não deve ser realmente o primeiro, mas o mais forte e cruel. Já que o primeiro é difícil de lembrar, não é?
No meu caso, com
26 anos, já uma mulher independente, com grau universitário e ocupando cargo de
vereadora, fui agressivamente assediada por uma pessoa também do meio político,
muito mais velho do que eu. Errei. Não denunciei à polícia, não cumpri com o
que julgava ser meu dever de agente pública, o que, talvez, incentivasse mais
mulheres a fazer o mesmo. Mais uma culpa nos ombros, entre tantas que a
sociedade coloca para nós mulheres carregarmos.
Alguns meses depois do acontecido, a situação terminou se tornando de conhecimento (quase) público, por uma atitude desrespeitosa do próprio agressor.
A reação da sociedade diante da informação? Claro que foi dizer "ela provocou, andava muito com ele!"; "fez por onde, tinha vezes que ficavam muito tempo conversando!"; até o cúmulo de se gerar o boato "ah, mas eles tinham um caso!". Afinal, é mais fácil culpar uma mulher e procurar esmigalhar sua "reputação", do que admitir que o homem é um estuprador em potencial.
Há esse preconceito independentemente de cor, classe social ou religião da vítima. Simplesmente existe. Nosso dever é questioná-lo, combatê-lo, exterminá-lo, junto com todos os outros tipos de violência de gênero. E eu acredito que expor situações assim é uma das formas de combate. Essa é a minha história. Qual a sua?
Marília Arraes
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